Editado
pela Cortez Editora e lançada no 17º
Salão
da Fundação Nacional do Livro Infantil e
Juvenil,
no Rio de Janeiro, em junho de 2015.
Em Guarani, “Marangatu” significa “o
Divino Sagrado”.
Antes dos europeus, a terra não tinha
fronteiras nem países: era uma só. Os caraíbas chegaram de dois
lados, como um cerco, mas avançaram com dificuldade — até porque
esbarraram em guerreiros corajosos. Os portugueses, vindos do Oceano Atlântico,
ficaram principalmente no litoral, só de vez em quando entrando no centro-
oeste, ainda hoje meio despovoado. Já os espanhóis, chegando pela costa do
Pacífico, encontraram não só preciosos metais, mas também a grandiosa
Cordilheira dos Andes — que os obrigou a frear seu caminho. Assim, por algum
tempo ficou protegido um grande território — de planaltos e planícies,
montanhas, rios e pântanos —, onde viviam diversos povos indígenas. Muitos eram
nômades — naturalmente “sem fronteiras”. No coração deste continente sul-americano,
onde hoje são a Bolívia e o Paraguai e, ainda no Brasil, onde atualmente fica o
Estado do Mato Grosso do Sul, e também desde o Rio de Janeiro até o Rio Grande
do Sul — aí vivia o bravo povo Guarani. De tão numeroso, subdividia-se em
vários grupos, com muitos nomes: “Kaiowá”, “Embiá”, “Nhandeva”; ou, ainda,
“Araxá”, Cainguá”, “Carijó”, “Guaianá” ou “Itatim”.
O Cerro Marangatu localiza-se junto à
Serra de Maracaju, no sudoeste do Mato Grosso do Sul. Conforme antiga profecia,
no dia em que os Guarani forem expulsos dessa localidade, o mundo estará
acabado. De fato, a resistência desse povo no local já rendeu um dos maiores
mártires da luta pela preservação das tradicionais terras dos seus ancestrais,
o líder indígena Marçal de Souza, morto na região do Piracuá.
A nação Guarani se sobressaiu pela
valentia e pelas tradições, tendo conseguido o respeito das outras etnias. Nas
brumas do tempo se perdem a origem, a língua e as tradições desse povo. O avañe’ê, o Guarani, é uma das
mais antigas línguas do mundo, muito próxima da língua-mãe da humanidade,
quando sons primitivos originaram a formação de uma linguagem. A batida da mão
fechada no peito desnudo originou o som de tê,
‘o corpo humano’. A batida da mão espalmada criou o pô, a própria ‘mão’. Todas as
palavras são oxítonas, como no francês. O y tem som gutural. O h é aspirado como no inglês. O ñ equivale ao nh. A junção dos sons
onomatopaicos formam as palavras. Do som gutural emitido por quem está com sede
originou-se y, ‘a
água’; daí yvy, ‘a
terra’, que representa a fusão de y + guy (‘água’ + ‘por baixo’). Assim,
os sons se multiplicam e se aglutinam em musicalidade telúrica e poética. Outro
exemplo, o termo Cuarahy (‘o Sol’) é formado por cua (‘buraco’) + ara (‘céu, tempo’) + hy (‘som gutural e soprado’);
temos, então, literalmente: ‘o ruído dos raios solares passando pelo buraco do
céu’. A Nasa (sigla em inglês para a agência norte-americana Administração
Nacional da Aeronáutica e do Espaço) gravou esse som gutural e veloz da estrela
no seu trajeto pelo espaço; no entanto, os Guarani já o conheciam.
Por que a Mitologia Guarani revela tantas
batalhas travadas nos céus e não na terra? A quantidade de entidades no panteão
mitológico Guarani é ilimitada. Podemos citar como exemplos: Piragui, guardiã das
grutas e dona dos peixes; Ava
Hovy, o senhor do arco-íris; Jacaíra,
a dona das plantas; Araryvusu,
o senhor das árvores, e muitas outras.
O Brasil pulsa seu sangue guarani, que
traduz uma vivência alternativa ao mundo capitalista.
Sao ancestrais atlantes. Seus mitos são histórias reais de conhecimento superior ao nosso. Desprezar a sabedoria deste povo e afundar a mente na ignorância. São eles os guardiões dos mundos internos.
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